Depois da balada, voltei pra casa cedo. Nunca fui de ficar mal por coisas bobas, mas dessa vez não teve como...

Sem ter ninguém pra desabafar, liguei para uma amiga da Estônia. Fiquei surpreso quando ela resolveu comprar passagem pra vir pra cá me ver.

Escutei a campainha tocar e fui correndo abrir a porta. Abraçá-la como costumava fazer na infância foi meu primeiro instinto, e na mesma hora senti uma vontade de chorar. Dei um suspiro longo, me contendo.

Emma: Não vai chorar, bebezão. Não estamos mais na terceira série!

A Emma tem sido minha amiga desde os cinco anos. Estudamos nas mesmas escolas e só nos separamos quando ela foi pra faculdade, na Finlândia. E eu sei exatamente o que vocês estão se perguntando, haha...

Sim, já passamos por aquela fase que acontece em algumas amizades entre homem e mulher, onde os dois começam a se perguntar se estão sentindo algo pelo outro. Mas isso passou na mesma hora em que resolvemos nos beijar, antes de ela viajar pra Finlândia.

Emma: Eca, parece incesto!

Ronnie: Falou tudo.

Rimos demais depois daquilo, e desde então temos uma conexão muito forte. A Emma parou de falar comigo enquanto eu estava envolvido com coisas ruins, mas quando saí da cadeia ela estava na minha casa, esperando com minha mãe para dar as boas vindas.

Emma: Nunca te vi tão triste, Ron. Como estão as coisas com a sua ex?

Contei tudo, desde o início: a briga com o Leonardo, minha certeza de que foi a Boo quem contou, nosso término, a noite de sábado, o beijo que vi, como não consigo mais confiar nela... Dei todos os detalhes, observando a expressão impassível da Emma enquanto ouvia.

Emma: Ronnie, tem certeza? Eu não vejo por que ela contaria. Não faz sentido!

Ronnie: Quem mais contaria, Emma? E depois, vi ela ontem com o mesmo idiota da boate. Acho que não importa mais se ela contou ou não, a Boo está seguindo em frente.

Nesse momento, escutei a campainha tocar com insistência, novamente. Sabendo que o Barry estava, como sempre, trancafiado no quarto, pedi licença à Emma e fui atender.

Fiquei muito nervoso ao ver quem era.

Ronnie: O que faz aqui?

Boo *irritada: Vim falar com meu irmão, a casa é dele também, não?

Não consegui conter minha ironia ao ouvir o tom de voz dela.

Ela nem deixou eu responder antes de andar na direção da sala. Vi seu corpo paralisar no mesmo momento e andei até onde a Emma estava.

Boo *irônica*: Ora, não vai apresentar sua amiguinha, Ronnie?

Ronnie *indiferente*: Ah, sim. Essa é minha amiga de infância, Emma. E, Emma, essa é a Boo.

A Emma deu um sorriso, parecendo realmente feliz em conhecer a Boo. Porém, acho que não foi recíproco.

Boo *sorrindo ironicamente*: Acho que já vi o suficiente. Indo falar com meu irmão, licença.

Ela subiu as escadas, pisando firme. Tive que morder o lábio pra não rir.

Ronnie: Estou louco ou acabei de ver a Boo com ciúmes?

Emma: Vai atrás dela, anda!

******Os intervalos com (...) são os trechos da conversa que não ouvi******

Subi as escadas atrás da Boo e cheguei a me aproximar da porta do Barry, mas quando ouvi o tom da conversa, achei melhor não interromper. No entanto, não consegui me impedir de continuar ali, ouvindo as frases cortadas e me sentindo pior a cada segundo.

Boo: Leonardo foi em casa. (...) Expliquei todo o meu sentimento a ele.

O Barry respondeu em voz baixa, como tem feito ultimamente. Nesse momento, uma palavra começava a repetir dentro da minha cabeça. Sentimento? Que sentimento?

Boo: É (...) beijou (...).

Fechei meus punhos com força ao ouvir esse trecho, e minha raiva me fez perder a parte seguinte da conversa. Quando consegui me concentrar novamente...

B: (...) voltar com o pai dela.

Foi a gota d'água. Desci as escadas correndo, voltando pra sala.

Emma ainda me esperava, com o olhar confuso.

Ronnie: Eu estraguei tudo. Eu sabia, Em. É tarde demais...

Emma: Ronnie Nommik! Não fala assim!

Não sei por que fiz o que fiz em seguida. Apenas senti a necessidade de fazer a dor passar. Achei ainda mais estranho ver minha amiga respondendo de uma forma totalmente diferente da primeira vez que aconteceu.

Enquanto beijava a Emma, só conseguia pensar em como aquilo era errado. Tive ainda mais consciência disso quando ouvi um arquejo.

Boo: Atrapalho?

Me afastei da Emma na mesma hora.

Boo *muito alterada*: Que amizade linda!!!

Ela bateu palmas, e vi seu queixo tremer enquanto terminava de descer a escada e passava por nós como uma nuvem de fúria.

Emma *muito constrangida*: Boo... Espera!

Boo: Não ouse me dirigir a palavra.

A Emma tremia com o nervosismo.

Emma: Eu vou atrás dela... Nommik, isso continua sendo incesto.

Ronnie: Não! Fica aqui, eu que preciso resolver isso.

Alcancei a Boo já na calçada em frente de casa.

Ronnie: Boo, espera! Porra, me deixa explicar!

Boo: O QUÊ????

Ao perceber como ela parecia magoada, soube que tinha errado feio mais uma vez. Que merda!

Ronnie: Não consigo entender você, Boo! Achei que estivesse fazendo a fila andar depois do que vi...

Boo: Do que você tá falando?

Ronnie: Vi você beijando aquele... serzinho.

Boo: E o que eu vi dois minutos atrás, era o quê? FALA!

Ronnie: Você entendeu tudo errado, Boo. Emma é minha amiga...

Ela me cortou antes que eu pudesse terminar.

Boo: Entendi o que errado? Você com essa ai? Hahahaha, me poupe! Amiga?? Sério?? Não quero saber...

Ronnie: Boo, espera...

Sem pensar muito bem, me aproximei um pouco mais, mas a Boo foi rápida em me empurrar com firmeza.

Boo: NÃO ME TOCA! Eu to extremamente chocada com o que vi... eu to com... NOJO de você, Nommik! Já vi o suficiente por hoje, me esquece...

Travei nessa hora, e sabendo que o erro foi meu, deixei ela ir.

R: Porque...-

*Boo POV*

Eu ergui uma de minhas sobrancelhas levando meu indicador até minha boca, dando uma batidinhas sobre ela, falei em tom irônico. 

B: Vamos lá! Muda, sabe por quê? Porque ele não ficou dois segundos colado na minha boca, ao contrário de você. E eu falo como eu quiser dela, eu to na minha casa... e ela nunca deveria ter aceitado o beijo, então amizade é uma ova. E termine de falar, por que? 

R: Não sei por que ela aceitou o beijo, isso não me interessa. Não sinto NADA por ela, nem um pingo de interesse, ENTENDEU?! Eu gostaria de sentir... Às vezes eu só queria esquecer tudo isso.

Quando eu escutei ele dizer as últimas palavras, senti um sentimento ruim voltar e meu estômago revirar de nervoso. Apontei em direção a porta, com a voz super alterada.

B: Então me faça um favor, me deixa sozinha. Já deixei a Margô com minha tia por isso. Se você veio aqui pra falar essas coisas, simplesmente vá atrás dela, que tenho certeza que a sua “irmãzinha” vai cair de boca em você e me esquece. Fim dos seus problemas, ajudei?!

Pisquei e sorri ironicamente ao terminar de falar, com uma dor no coração.

R: Ok, Boo. Não ajudou, não ajudou em nada. Não sei por que motivo eu iria atrás dela, se continuo o mesmo idiota apaixonado por você sempre. Vou seguir o seu conselho e te esquecer... Passar bem.

Fomos até meu quarto, e ao entrar, ele me abraçou muito forte.

B: Não suporto a ideia de ver você com outra pessoa...

R: Boo, eu nunca que conseguiria ficar com outra pessoa. Me desculpa de verdade... senti muito sua falta.

Até que aconteceu algo que eu estava sentindo muita falta! Vi que ele pegou no sono, e fiquei por um tempo o olhando.

*Ronnie POV**
Quando vi que ela dormiu, e ainda era cedo... despertei e fiquei um bom tempo abraçado com ela. Até que minha cabeça começou a pensar no que tinha acabado de conhecer.
Enfim, eu pra variar, confuso... mas a certeza que eu tenho, é que eu não quero perder essa mulher.
Eu quero confiar 100% nela, mas ainda tem uma parte de mim que fica em dúvida com tudo que aconteceu. Preciso me desculpar com a Emma sobre o que houve... eu não queria ter talvez plantado uma raiva da Boo sobre ela. Então dei um beijo em sua testa, deixando um bilhete ao lado da cama.